Dia difícil para a carona – 280km em 12 horas
ossa experiência pegando carona (ou “haciendo dedo” como dizem por aqui), está sendo muito positiva, tanto na Argentina quanto no Chile. Diferente do Brasil, aqui a prática é muito utilizada e segura. Os habitantes locais tem o hábito de levar os viajantes e se sensibilizam quando vêem nossas pesadas mochilas.
Para nós que estamos na estrada é uma mão na roda, afinal o valor das passagens de ônibus é alto e isso faz toda a diferença no nosso custo diário, então passamos a usar sempre a carona como meio de transporte.
De Puerto Natales a El Calafate, o plano era o mesmo: ir para a beira da estrada e esperar. São 280km, passando pela fronteira. O trajeto, que deve demorar cerca de 3,5h para nós levou o dia inteiro. Durante 12 horas estivemos na estrada, entre caronas e esperas, com 6 carros diferentes e chegamos ao final do dia em El Calafate.
Sabíamos que dificilmente conseguiríamos uma carona direto, já que teríamos de passar a fronteira, então sempre que um carro parava, mesmo não indo para o nosso destino, se fosse até a próxima bifurcação, entrávamos.
O ponto mais crítico foi na fronteira, onde um carro nos deixou e os que passaram em seguida não estavam parando. Ficamos duas horas esperando ali até que o mais inesperado aconteceu: um ônibus parou! Estranhamos um pouco e o Diego ainda explicou para o motorista que não tínhamos dinheiro para pagar a passagem e ele respondeu que não havia problema, nos levaria de graça até Rio Turbio. Ficamos muito agradecidos e fomos confortavelmente até a primeira cidade argentina.
Chegamos com fome, afinal já passava da hora do almoço. Fomos até o supermercado e compramos pão, geléia e alguns biscoitos, depois nos dirigimos à saída da cidade, para seguir viagem. Ali, outra carona inusitada, uma mulher com duas crianças parou e nos levou mais adiante. Isso é raro, porque quase sempre pegamos carona com homens sozinhos ou casais, foi a primeira vez que uma mulher desacompanhada nos levou.
Na saída de Rio Tubio também ficamos esperando por cerca de duas horas, como era hora do almoço, poucos carros estavam passando. Enfim, um rapaz parou e nos levou até Esperança, um pequeno lugar onde há um posto de gasolina, um restaurante e algumas casas que parecem abandonadas. Ali ficamos por mais algumas horas.
Passavam das 5 da tarde e nada, estávamos cansados e a rodovia tinha pouco movimento, já começávamos a observar o local com olhos de quem vai acampar por ali, buscando onde seriam boas alternativas, caso tivéssemos que montar a barraca para passar a noite. Ao mesmo tempo fazíamos a conta de quanto teríamos gastado vindo de ônibus e pensamos que economizar R$ 150,00 ainda assim valia a pena.
Enfim, depois de algumas horas de espera, um casal para e nos leva. Fomos, os oito em direção a El Calafate. Sim, eu disse oito: nós, o casal, três cães e um papagaio. Foi divertido e um grande alívio saber que essa era nossa última carona, estávamos exaustos!
O casal nos deixou num camping, chamado El Ovejero, bem no centro da cidade e ali ficamos. Pagamos a estadia e montamos a barraca. Depois, fui até a recepção, onde tinha wi-fi e resolvi checar meu perfil do Couchsurfing, pois até o momento em que saímos de Puerto Natales não tivemos resposta de nenhum dos contatos que fizemos.
Foi aí que a nossa sorte começou a mudar, Willy, o último contato que fiz, respondeu dizendo que estava disponível e ficaria muito feliz em nos receber. Não só isso, passou no camping e nos buscou para jantarmos uma deliciosa pizza vegetariana, por sua conta. A conversa com ele foi tão boa e receptiva que foi um aconchego enorme depois de um dia tão cansativo. Voltamos ao camping somente porque já tínhamos pagado e montado tudo, mas no dia seguinte já seguimos para a sua casa.
Depois daqui, vamos para El Chalten, mais uma viagem como a última e acha que vamos encarar carona outra vez? É claro que vamos! Tivemos um dia difícil, mas foi pura questão de sorte, um dia ruim não vai nos fazer desacreditar que a carona é realmente uma forma muito boa de economizar e ainda conhecer pessoas bacanas no meio do caminho.