Cicloturismo Circuito Vale Europeu – Dia 04 de 05
omecei o quarto dia de viagem pelo Circuito Vale Europeu desmontando meu acampamento improvisado de dentro da construção onde eu havia passado a noite e quando já estava com tudo pronto pra começar a pedalar tive a primeira surpresa daquela manhã de segunda-feira cinza: meu pneu dianteiro estava furado. Levei 30 minutos pra fazer a troca da câmara e comecei a pedalar às 8:45h.
Ainda não havia tomado café, depois de um terceiro dia difícil eu resolvi me dar o luxo de tomar o café da manhã em uma padaria ou uma lanchonete qualquer que encontrasse nos primeiros momentos do dia. Já no primeiro quilômetro encontrei um mercadinho onde comprei dois sanduíches com queijo, um pacote de orelha de gato e um Chocoleite de 850ml. Fiz algumas fotos dessa queda d’água que fica quase em frente ao mercado e pedalei mais 3km até parar na beira desse mesmo rio, próximo a uma pequena ponte pra tomar meu café da manhã de rei.
Enquanto estava comendo tive dois encontros muito bacanas. O primeiro com um rapaz de Curitiba que me viu sentado ali com a bike toda carregada e resolveu parar seu carro e conversar comigo. Foi uma conversa muito bacana, ele também era ciclista e conversamos sobre algumas rotas e pontos turísticos da região. O segundo encontro foi com um senhor com uma carroça que estava pegando trato para seus animais acompanhado por dois cachorros, conversamos brevemente, ele seguiu com seu trabalho e eu terminei meu café e segui com meu pedal.
Nesse quarto dia eu estava indo em direção a Cachoeira Salto do Zinco, que pertence ao município de Benedito Novo, era o local pelo qual eu havia criado uma expectativa grande quando estava planejando a viagem. Eu sabia que iria percorrer um trecho de 9km pra fora da rota principal do circuito e que enfrentaria uma subida íngreme, mas apesar da dor na coxa direita (que eu estava aliviando com os analgésicos) e do cansaço acumulado dos últimos dias eu me sentia bem animado com o que iria ter pela frente no restante do dia.
Mas eu ainda tinha um bom trecho pela frente até chegar lá, então mantive sempre em mente aquela reflexão de que não se pode focar somente no destino e deve-se aproveitar, e muito, o trajeto. Depois de mais ou menos uns 10km pedalados fiz minha segunda parada de café da manhã na beira de uma pequena corredeira do Ribeirão Liberdade, comi o segundo sanduíche e tomei o resto do Chocoleite, estava bem alimentado e pronto para seguir pedalando por um bom tempo.
(Clique para ampliar as fotos panorâmicas)
No caminho até a entrada da propriedade onde está a cachoeira passei por algumas chácaras lindas e quase todas elas estavam sem ninguém morando, ou seja, a maioria delas eram segundas (talvez até terceiras) casas de seus proprietários, senti uma certa inveja. Fiquei pensando se trocaria viver em Jaraguá por um bom pedaço de chão aí por esses cantos. Gosto muito de Jaraguá, sou nascido e vivi minha inteira aqui, tenho um carinho muito especial por esse vale, mas com os preços dos imóveis do jeito que estão, acho pouco provável que eu consiga realizar o sonho da chácara aqui na cidade.
Pedalei por mais uns 13km até avistar a cachoeira pela primeira vez, foi um momento muito especial, depois de uma subida pude enxergá-la ao fundo, imponente no horizonte e à minha frente parte do caminho que deveria trilhar até chegar a ela. Desde esse primeiro avistamento, volta e meia eu fazia uma curva ou duas onde podia enxergá-la de novo, cada vez mais perto, me animando pela subida final pesada de mais ou menos 2 ou 3km até chegar no mirante onde pude ver toda a sua grandiosidade e beleza.
Fiquei bastante tempo sentado no mirante admirando a paisagem e descansando. A subida havia sido dura, mas valeu cada esforço. Mesmo sendo um ponto fora do roteiro principal eu acredito que esse é um lugar que tem que ser visitado. Era o lugar pelo qual eu tinha criado uma expectativa de ser o ponto alto da viagem e, de fato, ele não decepcionou.
Depois da cachoeira eu estava com um sentimento de missão cumprida, parece que dali pra frente eu já estava voltando pra casa. Saí de lá muito feliz e embalado pela descida fui bem contente pedalando em direção a Rodeio, cidade onde eu pretendia passar a noite. Durante a descida notei que meus freios não estavam lá aquelas coisas, mas na hora não me preocupei muito.
Depois de voltar a rota oficial novamente comecei a encarar mais uma subida quase tão grande quanto a da cachoeira, porém nesse trecho as subidas pareciam mais bem distribuídas, não tão íngremes, ainda assim foi um desafio e tanto. Já no início da descida, quando pude avistar a cidade de Rodeio, notei que meus freios tinham quase que ido embora completamente, nesse momento fiquei bem preocupado, eu tinha uma grande descida pela frente e percebi que seria impossível descer montado na bicicleta. Tentei esticar os cabos nos manetes, mas mesmo assim não tinha freio suficiente e tive que fazer praticamente toda a descida empurrando. Em trechos onde a descida não era tão íngreme eu embarcava na bicicleta e ia freando com os pés, mas isso me deixava numa posição bem desconfortável, porque pra alcançar o chão você precisa sentar no quadro.
Fiquei variando entre a caminhada empurrando a bicicleta e o freio de pé quase até o final da serra, quando uma caminhonete passou por mim e eu ergui as mãos, fazendo sinal para que parasse. Nela estava um outro curitibano e seu filho, que estavam fazendo o circuito de carro. Ele me ajudou a colocar a bicicleta pra cima da caçamba e me levou pelos 4km finais até o centro da cidade. Chegando lá agradeci imensamente a ajuda e fui procurar uma oficina de bicicletas para que pudesse consertar meu freio. Já era final da tarde, quase 18h e pelo tamanho da cidade fiquei com receio que não fosse encontrar nada.
Para minha sorte, mais uma vez fui surpreendido, estava quase em frente a uma oficina, pedalei poucos metros parei em uma casa, onde nos fundos vi que havia uma pequena oficina. Bati palmas e de lá saiu o senhor que me ajudou muito mais do que eu poderia imaginar. Não só ele consertou meus freios (que no final das contas era apenas uma regulagem da pastilha, eu tinha inclusive as ferramentas pra fazer, mas não sabia), consertou também meu raio traseiro quebrado, me deu algumas bananas pra que eu levasse e ainda de quebra me contou sobre a casa de um amigo dele que estava abandonada no final da rua e disse que eu poderia passar a noite lá. Era tudo bom demais pra ser verdade. Me dirigi para a tal casa e chegando lá fiquei muito contente com o que vi, a porta estava entreaberta e revelava uma sala grande, uma lavanderia e um banheiro (inutilizável) na parte de fora. Eu tinha um teto sobre a minha cabeça e água na torneira, era só o que eu precisava.
Comi várias bananas, tomei um banho gelado na torneira da lavanderia (que foi uma situação bem engraçada), depois montei a parte interna da barraca como havia feito no dia anterior, preparei minha cama, comi mais um miojo e fui dormir. Na casa tinha até luz elétrica e pude carregar todos os equipamentos. Como falei antes, era quase com demais pra ser verdade, depois de um terceiro dia cansativo e cheio de problemas, o quarto dia havia me dado diversos presentes e, apesar pneu furado e do problema com os freios, posso afirmar que havia sido um dia de muita sorte.
8,00 – Dois sanduíches
6,00 – Orelha de gato
7,00 – Chocoleite
2,50 – Dois macarrões instantâneos
5,00 – Conserto freio
Total do dia: R$19,50
Distância: 54km
Altimetria: 1.458m
Tempo de movimento: 5:22h
Fala Diego!
Muito massa essa cachoeira em Benedito Novo.
Você sabe dizer se dá para acampar por perto dela?
Fala Emerson! Tudo certo? Desculpa por não responder seu comentário antes, acabei vendo ele só agora.
Não sei te dizer se tem espaço pra camping perto da cachoeira não, só fui até esse mirante e depois retornei, nem segui na fazenda até a casa e às proximidades da cachoeira. De repente você consiga essa informação com a secretaria de turismo ou algum guia lá da cidade.
Forte abraço!
Boa tarde, Diego! Vc acha que é possível fazer o circuito de bicicleta do vale da cerveja sem guia, não sendo local? Eu iria com meu namorado. Achei o preço das agências muito alto.
Abração!
Carla
Olá Carla! Tudo certo? Desculpe pela demora na resposta, com a correria da viagem nosso blog acabou ficando um pouco parado.
Não sei se o corretor mudou suas palavras, mas acredito que você quis dizer vale europeu e não vale da cerveja, certo?! hahahaha
Se sim, a resposta é sim, é possível fazer o circuito sem um guia. Você pode ver pelos relatos que eu me bati um pouco em alguns pontos, acabei alterando a rota algumas vezes, mas no final das contas deu tudo certo. O importante é ir descobrindo as belezas pelo caminho.
Grande abraço e boas aventuras!