Paso de Las Ovejas – Laguna del Caminante e Cañadon de las Ovejas
entou muito durante a noite e acordamos com chuva. Por algum tempo ficamos dentro da barraca, dormindo e pensando que talvez nosso passeio tivesse que terminar por ali. Mas lá pelas 10:00h a chuva parou e pudemos tomar um café, desmontar as barracas e seguir novamente.
Voltamos praticamente para o ponto inicial da trilha, atravessando novamente a ponte capenga e então pegamos o caminho mais à esquerda (não há nenhuma placa indicativa para essa trilha, aí é pelo olho e pelo GPS mesmo). O caminho era aberto, porém bastante enlameado, sempre com a companhia de cavalos selvagens nesse trecho. Antes que pareça algo irreal (unicórnios?), cavalos selvagens são exatamente iguais aos normais, são dóceis, tem o pêlo brilhante e a única diferença é que não possuem a marcação a ferro dizendo quem é seu dono.
Seguimos por essa trilha, Katy sempre carregando o mate a tiracolo, João de olho no GPS e Diego com a câmera e em certa altura paramos para almoçar em um ponto um pouco mais limpo.
Depois de meia hora de caminhada, chegamos a uma placa que indica o início do Parque Nacional Tierra del Fuego, porém essa é apenas uma demarcação territorial, pois estávamos muito longe de onde realmente fica a estrutura de base do parque. Nesse ponto nos alcança um casal com dois cães e começamos a conversar. Moradores de Ushuaia, o casal nos conta que faz várias trilhas na região e ele fazia esta pela terceira vez, conversamos um pouco e decidimos seguir juntos. Assim, se juntaram a nós Gabriel e Marisa e dessa forma conhecemos amigos que continuariam por perto durante toda a nossa estadia em Ushuaia.
Seguimos caminhando, agora ainda mais confiantes por termos junto alguém que já conhecia a trilha. Encontramos ainda mais um trio, europeus que faziam a trilha no sentido contrário de nós.
Em certo momento chegamos a uma castoreira, onde, ao olhar para trás, avisto um rapaz correndo em nossa direção, estranhei a modalidade em plena trilha no meio da mata, mas tudo bem, imaginei que passaria por nós sem nem perguntar nossos nomes. A surpresa foi que abriu um enorme sorriso ao nos ver, parou e esbaforido falou que vinha correndo justamente para nos encontrar. Aniol (ou el maratonista, como o apelidamos depois) é um jovem espanhol que faz intercâmbio no Chile, estava em Ushuaia e resolveu fazer a trilha, mas estava com medo de se perder, quando encontrou os europeus que disseram que havia outro grupo caminhando cerca de meia hora à frente, se pôs a correr para nos encontrar.
E assim, passamos a ser sete: dois brasileiros, um português, uma chilena, um espanhol e dois argentinos. Um grupo divertido e que seguiu em diferentes ritmos. Passamos por “pontes” de todas as formas, de pedaços de madeira pregados, a simples troncos solitários de uma margem a outra dos rios. Naturalmente, em certo momento a trilha começa a ficar mais pesada, com trechos mais íngremes e por fim chega a um vale aberto, de beleza impressionante, onde encontramos a primeira placa do caminho que indica à direita a Laguna del Caminante e à esquerda o Cañadon de las Ovejas. Pegamos o rumo da direita, pois era onde iríamos acampar. Seguimos subindo em um caminho sinuoso pela encosta da montanha, porém com uma linda vista para o vale.
Para a Laguna del Caminante ainda descemos por uma pequena trilha bastante enlameada e atravessamos mais dois córregos, ali a sensação já tinha passado do cansaço ao êxtase, pois já podíamos avistar a magnífica laguna.
Esse acampamento foi particularmente divertido. Chegamos primeiro e começamos a montar as barracas, quando chega João com a roupa toda molhada. Havia se desequilibrado quando passava por um dos riachos. Em seguida Aniol nos conta que a garrafa de água que levava em sua mochila havia se destampado, molhando boa parte de seu conteúdo, incluindo o saco de dormir. Um azar! Acendemos uma fogueira em um local que já tinha marcas de fogo e colocamos todos os pertences de Aniol ao redor para secar. Já tinha anoitecido e todos prepararam seus jantares ao redor da fogueira, que também foi providencial pois a noite estava fria.
A certo ponto olhamos para o saco de dormir que estava secando em um tronco próximo à fogueira e… que tragédia! Havia um pequeno rombo causado pelo calor excessivo e o tecido começava a ficar com uma mancha escura e endurecida. Não era o dia de Aniol! Por sorte o afastamos em tempo e o estrago não foi tão grande. Depois de muitas risadas e conversas com mate ao redor da fogueira, fomos dormir, pois o dia seguinte seria longo.
Nós fomos os primeiros a acordar. Percebemos que por aqui o pessoal levanta mais tarde, talvez porque os dias são mais longos e nós estamos acostumados com os dias no Brasil, onde, se você vai fazer uma trilha, tem de saltar cedo. Aos poucos todos foram acordando, preparando seus cafés e desmontando as barracas. Antes do meio-dia já saíamos novamente até a placa, onde tomaríamos a direção contrária ao dia anterior, rumo ao Cañadon de las Ovejas. Logo no início já pudemos sentir o que nos esperaria por todo o caminho: encostas de montanhas formadas por pedras soltas e boas rajadas de vento. Aniol decide que iria mais rápido à frente (el maratonista ataca novamente), porque tinha que pegar um avião ainda naquela noite. Nós seguimos em nosso ritmo pelas pedras, parando em alguns momentos quando ventava mais. A paisagem ia mudando e agora tínhamos uma vista muito ampla do vale, cercados de montanhas e cachoeiras.
Katy começou a andar mais devagar, até que precisou parar. Fez um calo feio nos pés, então ela e João ficaram para trás, enquanto seguimos para encontrar local mais abrigado para almoçar. Assim, quando parássemos, nos alcançariam.
Quando adentramos o bosque de lengas pudemos parar e cozinhar. Em seguida os dois nos alcançaram e almoçaram também. Katy sentiu a falta de seu casaco e decidiu voltar para procurá-lo, enquanto isso, esperamos descansando e logo ela retornou triunfante com a peça em mãos.
Seguimos pelas lengas e quando a trilha começa a descer mais, se apresenta um dos trechos mais difíceis. Árvores enormes estavam caídas no meio da trilha e, com as mochilas cargueiras, dificultavam muito a mobilidade. Seguimos lentamente por essa parte, pois o caminho estava realmente muito obstruído.
Por fim, encerra-se o bosque e passamos a um pasto verde, cheio de flores e arbustos com calafates, pequeno fruto silvestre, de cor roxa, que dá nome a uma cidade argentina, também da Patagônia. A lenda é que se você quer voltar à Patagônia um dia, deve colher uma fruta e comer. Claro que o fizemos.
Finalizada a trilha, encontramos outra vez a Ruta 3, porém do outro lado da cidade, bem distante de onde iniciamos o trekking. A casa de Gabriel e Marisa era muito próxima e assim fomos até lá tomar um pouco de água e descansar. Gabriel, muito solícito, nos levou de volta ao hostel com seu carro, para que não precisássemos gastar com taxi, estávamos super cansados e a oferta de carona soou como música.
Bruna e Diego, não os conheço, mas tenho lido cada post desse blog. Cada história, cada aventura e cada filosofia de vocês me emocionam muito. Tenho pensado em muitos lugares pra viajar e conhecer, e com certeza vocês abriram minha mente.
Agradeço por compartilharem essa viagem com conteúdos fodas e imagens incríveis!! (Sério, as fotos são lindas)
Beijos!