Chegando a Chiloé, o charmoso arquipélago chileno

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eixamos a Carretera Austral com um aperto no peito e uma vontade enorme de conhecê-la por inteiro. Confidenciamos aqui: rolou uma conversa de um dia voltar e fazer o caminho de bike… Vai saber…

Bom, o fato é que sabendo que um dia vamos voltar, não tivemos remorsos maiores em seguir em frente, e nosso rumo era Chiloé, um arquipélago com cerca de trinta ilhas (mas o pessoal daqui diz que o número é incerto e juram que há inclusive ilhas com poderes no maior estilo “Lost”). A maior e principal ilha é a Isla Grande de Chiloé, que compreende várias cidades. 

 Saímos de Coyhaique, onde passamos dias maravilhosos na companhia de David (couchsurfing) e dos outros hóspedes, o francês Samuel (com seu ornitorrinco de pelúcia Platipus) e o argentino Juan. Formamos uma turma animada e unida, sempre cozinhando juntos e indo dormir tarde, rindo por horas. Inclusive organizamos uma partida de pôker, onde confeccionamos nossas próprias fichas e chamamos de “pesos mochilenhos”, havia uma cotação oficial e tudo! Deu uma tristeza despedir-nos de David, mas saímos com uma promessa de nos vermos no Brasil em julho (espero que ele esteja treinando seu português e lendo esse post!).

Carretera Austral - Coyhaique - Desdedida David, Juan, Samuel e Platipus

Pegamos algumas caronas até que chegamos por volta das 18:00hs em Puerto Cisnes. Estava chovendo e tinha muita neblina no porto. Logo encontramos o escritório da companhia que faz a travessia de barco até Chiloé. Entramos e duas funcionárias nos deram o aviso de que o barco estava parado em outro porto e por conta do mau tempo não havia previsão de chegada. O horário de saída seria as 22:00hs, mas já estava atrasado no caminho em pelo menos 4 horas e contando. Pedimos se não tinha um lugar onde pudéssemos ficar e elas nos deram as informações das hospedagens próximas.

Saímos e nesse momento lembramos que estávamos quase sem pesos chilenos. Não imaginávamos que íamos passar a noite ali e não havia casa de câmbio no lugar. Perguntamos o valor numa hospedagem e saía CHS 10.000,00 por pessoa, sem café da manhã. Muito caro pelo que era oferecido e bem mais do que tínhamos no bolso. Voltamos ao escritório, onde a funcionária fez algumas ligações tentando encontrar alguém que trocasse nosso dinheiro, sem sucesso. Pegamos a maior cara de abandono que temos nas mochilas e explicamos para as duas o quanto não podíamos gastar aquele dinheiro e o quanto estava frio lá fora, depois, sem uma solução, desconsolados saímos.

Estávamos na rua e ouvimos um barulho na janela do escritório, elas estavam nos chamando. Entramos e elas disseram: “não poderíamos estar fazendo isso, mas a companhia tem um container que serve como sala de espera e é aberto somente uma hora antes do embarque. Vamos abrir uma excessão e deixar vocês ficarem lá. Tem calefação, banheiros, tomadas e água.”

Não podia ser melhor! Impossível expressar a felicidade que sentimos quando o funcionário abriu a porta do container e ligou o aquecedor. Passamos a noite ali, dando informações para algumas pessoas que batiam perguntando se o barco já estava a caminho, foi ficando tarde, colocamos os isolantes no chão, abrimos os sacos de dormir e apagamos.

Lá pelas três da manhã ouvimos um ruído na porta. Assim conhecemos o francês Roman, que chagava ensopado (ele e toda a sua bagagem). Ele não sabia que o container estava aberto e estava na mesma situação que a gente, só que um pouco pior, porque só encontrou abrigo bem mais tarde. Emprestamos um de nossos isolantes para ele e oferecemos o lugar mais próximo ao aquecedor, para que dormisse mais confortável enquanto se secava.

O barco chegou as 14:00hs do dia seguinte. Embarcamos para uma travessia que duraria dezoito horas e assim passamos a pior noite da viagem e na minha opinião, a pior experiência que tive até aqui. Embora o tempo estivesse melhor e sem perigo de tempestades, o mar ainda estava revolto e o barco balançava de um lado para o outro, eu me virava no banco tentando encontrar uma posição que não me fizesse vomitar. Para ajudar, ficamos próximos do banheiro e sempre que as ondas começavam, começava junto o festival de ruídos das pessoas “chamando o Hugo”, além disso, uma das portas do banheiro não tinha trava e ficava batendo conforme o barco inclinava. Apesar do incômodo, todos estavam tranquilos, parecia ser normal balançar desse jeito, mas para mim que nunca tinha navegado nessas condições, parecia que eu estava a bordo do Titanic no momento do naufrágio. Eu fechava os olhos e pensava “quando abrir de novo, já terei dormido e será dia”, mas isso não acontecia e foi uma noite longa.

Chegamos a Chiloé no final da manhã na cidade de Quellon, mas decidimos ir direto para Castro, que era bem maior e portanto teríamos mais possibilidade de fazer câmbio. Descobrimos que havia um ônibus por apenas CHS2.000,00 (Aprox. R$10,00) por pessoa e por esse preço e com os olhos fundos da noite mal dormida, nem cogitamos tentar carona. Em Castro, Roman, Diego e eu caminhamos um pouco procurando hospedagem e encontramos um quarto para nós três na Hospedagem Mary por CHS6.000,00 (Aprox. R$30,00) cada um. Gostamos muito dos preços de Chiloé em comparação com o resto do Chile. Naquela noite tentei alguns contatos de Couchsurfing e Alejandra nos respondeu. A partir do dia seguinte ficamos na casa dela e de Sandro.

Encontramos em Ale e Sandro bons amigos, logo que chegamos nos deixaram muito à vontade e deram várias dicas sobre o arquipélago. Na noite em que chegamos cozinhamos feijão com arroz e tomamos vinho, rimos e conversamos até madrugada, foi muito divertido!

No dia seguinte já fomos “explorar a ilha”, tomamos um ônibus até a cidade de Cucao, onde fica o Parque Nacional Chiloé (por CHS 1.800,00 cada um, cerca de R$ 8,00). É um parque pequeno, porém muito bem cuidado e com trilhas bem sinalizadas, ali podem ser avistados diversos tipos de vegetação e há uma parte do bosque especialmente bela com árvores antigas cheias de musgos e teias de aranha. Também é possível caminhar por uma trilha e chegar ao Oceano Pacífico, pelo lado oeste da ilha, dá uma emoção grande ver as ondas batendo na areia, coisa que há muito não avistávamos, pois só tínhamos ido a pontos onde o mar não faz ondas. A entrada no parque custa CHS 1.500,00 (cerca de R$ 6,80).

Isla de Chiloé - Parque Nacional Chiloé - Cucao - Vista para o Oceano Pacífico

Isla de Chiloé - Parque Nacional Chiloé - Cucao - Passarelas 2

Isla de Chiloé - Parque Nacional Chiloé - Cucao - Ovelha e o verde

Isla de Chiloé - Parque Nacional Chiloé - Cucao - Murta

Isla de Chiloé - Parque Nacional Chiloé - Cucao - Flora

Isla de Chiloé - Parque Nacional Chiloé - Cucao - Entrada

Isla de Chiloé - Parque Nacional Chiloé - Cucao - Bruna e as passarelas

Também percorremos a cidade de Castro e nos apaixonamos por suas construções feitas com pequenas telhas de madeira sobrepostas, chamadas “tijuelas”, com suas casas de palafitas, com seu rico mercado municipal e sua originalidade tão preservada que são poucos os pontos onde se vêem edifícios e outros indícios de modernidade, apesar de ser a maior cidade da ilha. Pelas ruas são vistos artesãos, vendedores de frutas e músicos. Outro destaque são as igrejas, patrimônio da humanidade pela UNESCO, que fazem jus ao seu título, elas foram construídas entre os séculos XVIII e XIX em madeira, com detalhes impressionantes.

Na feira municipal o destaque fica por conta da variedade de frutas e verduras (itens que mais ao sul do Chile são muito escassos), dentre eles o alho chilote, que são dentes de alho gigantes, mais parecendo cebolas, e também as batatas chilotas, que tem diversas cores e formatos. Ali também pode-se encontrar ampla variedade em artesanato, especialmente com lã de ovelha ou alpaca. Porém hoje a feira já incorporou vários produtos manufaturados “disfarçados” de artesanato, então é preciso observar bem para identificar o que é feito à mão mesmo e o que é industrial. Ainda assim, todos os produtos conservam o estilo chilote, que é encantador de qualquer forma.

Isla de Chiloé - Castro - Costaneira com vista para as palafitas

Isla de Chiloé - Castro - Palafitas

Isla de Chiloé - Castro - Costaneira

Isla de Chiloé - Castro - Ruas da cidade

Isla de Chiloé - Castro - Igreja

Isla de Chiloé - Castro - Vista interna da igreja

Isla de Chiloé - Castro - Interno Igreja 3

Isla de Chiloé - Castro - Interno Igreja 2

Isla de Chiloé - Castro - Interno Igreja 1

Isla de Chiloé - Castro - Feira municipal

Isla de Chiloé - Castro - Casa com tijuelas

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Comentários
  • Rael
    Responder

    Boa, casal. Estou acompanhando com a minha esposa a aventura de vocês, é muito inspiradora. Qual o próximo destino? Toda a sorte do mundo pra vocês.

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Carretera Austral - Caleta Tortel - Passarela Costaneira 2Chiloé - Vista do mirante para a cidade de Achao e o mar