7 de setembro no Pico Paraná
### Quarta-feira, 06 de setembro ###
18:00h – Chalé Mágico – Altitude: 30m
Ansiedade a mil. A previsão se manteve e teríamos tempo bom no final de semana, sol com poucas nuvens. Começo a arrumar a mochila, dentro tem:
– Roupas: Corta vento, fleece, segunda-pele (calça e camisa), uma bermuda, uma camiseta, par de meias e cueca;
– Comida: 5 miojos, 4 barras de cereal, um pote de amendoim, uma barra de chocolate, dois pacotes de discoito e uma lata de sardinha;
– Equipamentos: Isolante, saco-de-dormir, barraca, gás, lanterna de cabeça e de mão, canivete, leiteira (guerreira que está conosco desde Ushuaia), papel-higiênico, repelente, carteira;
– Eletrônicos: GoPro, 7D c/ 35mm, celular.
Termino de arrumar a mochila às 22:25h e vou dormir.
### Quinta-feira, 07 de setembro ###
07:00h – Chalé Mágico – Altitude: 30m
Acordo, tomo banho, vou trabalhar.
Só consigo pensar na montanha e devo ter falado “Pico Paraná” umas 50 vezes no trabalho.
Saí às 17:30h dizendo que se eu não mandasse notícias no Domingo era pra chamarem o resgate.
22:30h – Fazenda Pico Paraná – Altitude: 960m
Somos 3 no grupo. Eu, Glauco (Mochilando Sem Fronteiras) e Jonas, amigo do Glauco que eu tinha acabado de conhecer. Os dois já haviam subido o Pico Paraná duas vezes, nenhuma delas com tempo aberto e estavam tão ansiosos quanto eu.
Barraca montada, cama pronta. Como meu Subway de janta, faço algumas fotos, e mais ou menos às 23h durmo.
### Sexta-feira, 08 de setembro ###
04:00h – Fazenda Pico Paraná - Altitude: 960m
Acordo, como um miojo e uma barra de cereal, desmontamos o acampamento, fomos até o carro deixar algumas coisas e iniciamos a subida às 05:00h.
Cada um com sua lanterna, fomos iluminando o início mais tranquilo da trilha, íngrime, mas regular, sem muitos obstáculos.
Às 06:30h chegamos em umas pedras que servem como um mirante excelente e paramos um pouco pra curtir o início do dia.
A trilha do Pico Paraná é bem demarcada e passa por vários tipos de terreno. Tem momentos em campo aberto, trechos de mata mais fechada passando por valos formados pela água, muitas raízes e pedras formando escadas com degraus muitas vezes maiores que a extensão das pernas, forçando uma “escalaminhada”. Alguns pontos contam com o auxílio de cordas e grampos de ferro fixados nas pedras.
Depois de reabastecermos nossas garrafas na bica, subimos mais ou menos por 30 minutos e encontramos pessoas descendo, que nos informaram que o último ponto de água era a bica que havíamos passado. Que devido ao tempo seco das últimas semanas, praticamente todos os córregos da trilha estavam sem água e que os pontos em que normalmente eram pontos de reabastecimento estavam secos ou quase secos.
Estávamos apenas com 1l por pessoa, jamais poderíamos seguir em frente só com essa quantidade de água se quiséssemos atingir o cume. Decidimos voltar até a bica e encher mais garrafas que havíamos levado e também pegamos algumas outras garrafas com outras pesoas que desceram nesse meio tempo enquanto decidíamos o que fazer. Então subimos um pouco mais pesados do que o esperado, carregando mais ou menos 2,5l cada um.
Conforme fomos subindo começamos a duvidar do fato da bica ser o último ponto de água viável, fomos perguntando pra outras pessoas que encontrávamos no caminho e alguns estavam dizendo que haviam vários córregos secos, mas que haviam outros pontos onde podíamos reabastecer as garrafas. Não demorou muito e encontramos esses pontos.
Ficamos putos com os primeiros camaradas que alegaram que não havia mais água dali pra frente e faço aqui o meu momento revolts: “na trilha (e na vida) se você não tem certeza da informação, considere guardá-la pra si mesmo para não prejudicar outras pessoas, mesmo que, no fundo, sua intenção seja boa“. Enfim, reabastecemos as águas e seguimos o caminho. 2,5l por pessoa não era muito, mas era o suficiente se racionássemos e mantivéssemos o controle.
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Mais ou menos às 13:00h chegamos ao Acampamento 2 (1630m de altitude) e montamos as barracas. Ficamos de boa durante a tarde toda, comemos, demos uma caminhada ao redor do acampamento e tiramos um cochilo. Depois vimos um pôr do sol maravilhoso, comemos e voltamos pra barraca pro sono que duraria até o dia seguinte.
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### Sexta-feira, 09 de setembro ###
04:30h – Acampamento A2 - Altitude: 1630m
Acordamos, comemos, preparamos a mochila pequena com água e as câmeras para ir em direção ao cume e ver o sol nascer. Novamente, munidos das nossas lanternas, iniciamos a subida final, que conta com mais trechos contendo grampos de ferro para auxiliar na subidas mais complicadas. Chegamos no cume (1877m de altitude) antes das 6:00h e acompanhamos o sol nascer por cima do mar de nuvens. Um cenário quase surreal, um sentimento de grandeza e de conquista. Um momento sublime.
Na parte inferior da foto acima é possível ver o acampamento A2, os dois pontos laranjas são nossas barracas.
Retornamos ao acampamento, comemos novamente, desmontamos as barracas e carregamos tudo. Estávamos cansados, a subida não tinha sido leve e o mesmo sol que nos proporcionou momentos extasiantes como os que você viu nas fotos, também nos castigou em vários outros momentos. A fadiga era grande, mas estávamos mais animados, mais leves e com a gravidade ao nosso favor.
Chegamos na fazenda novamente às 14:00h. São 7,5km de distância, 15km para ida e volta. 1400m de altura acumulada e 930m de diferença de altitude. Levamos mais ou menos 8:30h para subir e 5:30h para descer.
Custos: R$15,00 na fazenda, R$50,00 de comida (com o subway da janta e café da volta) e R$40,00 da divisão da gasolina e pedágio.
E o clichê: ver o sol nascer do ponto mais alto do sul do país: não tem preço.
Valeu Glauco e Jonas, foi animal! Mais uma conquista pra conta.