O último dos 110 dias de viagem
lí estávamos nós, no 110º e último dia da viagem, com as mochilas prontas, um sorriso de orelha a orelha e ansiosos pelo retorno e pelo reencontro com todos.
Mais uma vez começamos o dia com um delicioso café preparado pela dona Alicia e com a sensação de que estávamos em casa. Conferimos a mochila pela última vez, agradecemos muito por toda a hospitalidade e nos despedimos. Pegamos o trem rumo ao centro, lá iríamos passar pela Feira de San Telmo, visitar a Plaza de Mayo, a Casa Rosada e a rua Flórida, depois rumávamos direto para o aeroporto.
No trajeto de trem o turbilhão de pensamentos estava a mil, eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser entrar no avião e voltar pra casa. Parece estranho querer o final da viagem, o momento mais incrível da minha vida até então, mas eu sabia que precisava seguir em frente para que mais coisas tão maravilhosas quanto isso continuassem acontecendo, eu precisava encerrar este ciclo. E é claro que eu estava com saudades dos amigos e família e querendo muito iniciar todos os planos que eu e a Bruna havíamos traçado no decorrer da viagem.
Saímos da estação de trem e pegamos um ônibus que nos deixaria mais próximos da feira. O ônibus estava um pouco cheio, então entrar com as mochilas grandes é sempre um desafio e atrai alguns olhares de desaprovação, mas durante toda a viagem isso não foi um problema pra gente, não seria hoje que isso iria mudar. Nosso ponto de descida não era muito longe, depois de algumas quadras descemos e caminhamos um pouco mais até começarmos a ver as barracas e os vendedores fazendo suas ofertas.
A Feira de San Telmo acontece todos os domingos nas ruas Defensa e Humberto I e na praça Dorrego e é muito tradicional pela variedade de antiguidades, além de muito artesanato e artigos em geral. Como estávamos com as mochilas cargueiras nas costas éramos alvo de muitos olhares curiosos, mas ao contrário da nossa experiência no Caminito, não nos sentimos assediados pelos vendedores, de certa forma a mochila foi nosso escudo, era o símbolo de “poca plata” estampado em nossas caras.
Um pouco mais a frente encontramos uma das artistas de rua que mais nos encantou em toda a viagem, Martha Elisa, uma senhora de 80 e poucos anos que tocava uma percussão improvisada e que conversava com todos da maneira mais animada possível, realmente uma lição de vida gigante. Na feira também encontramos a Samara e o Leandro, casal de amigos da nossa cidade que estavam lá curtindo sua lua de mel. Foi muito bacana encontrar durante a viagem os primeiros rostos conhecidos, mesmo que só no último dia. Conversamos um pouco, trocamos algumas ideias sobre Buenos Aires e seguimos em frente, ainda tínhamos bastante coisa pra fazer até a hora de embarcar.
Fomos em frente e rumamos para a praça de maio e a casa rosada, cartões postais da cidade. A arquitetura deste pedaço da cidade é realmente incrível. Os prédios antigos dão seu toque de charme em meio as avenidas gigantes e movimentadas. A praça é um ponto de contraste absurdo, de um lado a perfeição da arquitetura e do outro os muros de contenção e as faixas de protesto, um local que levanta muitos questionamentos.
Nossa última passagem antes do aeroporto era a rua Flórida, um centro comercial muito conhecido também e que, ao contrário da feira de artesanato, possui marcas de grife, grandes lojas de eletrônicos e de tudo o que você possa imaginar. Nada disso nos interessava muito, queríamos só achar uma boa casa de câmbio e trocar os pesos que haviam sobrado e seguir para o aeroporto. Como era domingo, a grande maioria das lojas e casas de câmbio que não eram nessa rua estavam fechadas, mas ali tudo funcionava normalmente. Haviam muitos, mas muitos cambistas na rua, cada um que gritava eu me aproximava e pedia a cotação até que encontramos um que pagasse um bom valor.
Depois de trocarmos o dinheiro pegamos mais um ônibus até o aeroporto, já estávamos com o tempo curto, mas chegamos até lá e fizemos o check-in sem nenhum problema. Pouco tempo depois estávamos dentro do avião e num estado de espírito que beirava a perfeição enquanto subíamos pelas nuvens naquele fim de tarde.
Acabou… de começar. Esse era o sentimento daquele momento.