Cicloturismo Circuito Vale Europeu – Dia 02 de 05
o segundo dia da viagem pelo Vale Europeu não acordei muito cedo, acabei me enrolando até desmontar o acampamento e comecei a pedalar as 9:30h. Como comentei no último post, acabei acampando já no centro de Timbó e depois de alguns minutos de pedal já cheguei ao marco inicial e final do circuito de cicloturismo.
Esse local é muito bonito e me surpreendeu muito. A ponte, o prédio do Thapyoka e a praça como um todo unem muito bem as construções históricas e a natureza. O dia começou ensolarado, contrariando um pouco as previsões que tinha visto até então. Lembrando que era o último final de semana antes do dia das crianças então o centro estava fervendo e muitas lojas estavam munidas com todo tipo de brinquedo pra atrair a atenção dos pais e da criançada. (Clique para ampliar as fotos panorâmicas)
No primeiro dia eu já tinha notado que um dos meus raios traseiros havia quebrado, então eu queria achar uma loja de bicicleta pra consertar isso o mais rápido possível e evitar que outros acabassem se rompendo e me causando problemas maiores. Acabou que isso se tornou uma tarefa bem mais difícil do que eu esperava, ou eu não encontrava uma oficina aberta, ou ela ficava muito fora da minha rota, ou simplesmente não existia nenhuma na cidade. Mas tentei não me preocupar muito com isso, mesmo carregando um certo peso no bagageiro, somente um raio quebrado não deveria ser suficiente pra danificar a estrutura a ponto de chegar a torcer o aro ou algo assim, então resolvi seguir viagem e rumar para Benedito Novo e depois para Alto Palmeiras, em Rio dos Cedros, meu destino final do dia era a península Palmeiras, na barragem Rio Bonito.
Lembrando que eu não fiz a rota mais tradicional do Circuito de Cicloturismo do Vale Europeu, eu fiz algumas mudanças pelo fato de eu estar iniciando de Jaraguá, outras porque eu errei o caminho e outras simplesmente porque eu quis. Mas no geral o circuito todo ficou bem similar, a única grande diferença foi o fato de eu estar fazendo o circuito ao contrário, isso me deixava meio as cegas com relação a sinalização da rota e esse foi um dos motivos de eu ter feito ainda mais adaptações ao roteiro. Então se você por acaso caiu aqui buscando informações sobre o roteiro oficial lembre-se de ter isso em mente.
Uma das reflexões mais importantes que aprendemos durante a viagem pela Patagônia foi a valorização do trajeto e não do destino, uma vez que você tem isso em mente, a viagem se torna muito mais prazerosa e completa. As vezes acabamos chegando ao destino e ele “não era tudo aquilo”, então nos frustramos e parece que a viagem toda não foi tudo aquilo, mas a experiência da viagem não pode se resumir somente ao destino, temos que aproveitar todo o trajeto. Essa lição foi novamente reforçada durante essa viagem pelo Vale Europeu, eu não tinha destino certo, eu estava apenas pedalando e visitando vários lugares bonitos. Por isso mesmo errando o trajeto algumas vezes, tendo que retornar e pedir informações diversas vezes eu acabava não me estressando muito, pois sabia que fazia parte de toda a experiência.
Mas voltando ao diário de bordo, depois de alguns quilômetros pedalados cheguei ao Museu da Música (ainda em Timbó) que acabei encontrando por acaso. Eu havia visto esse ponto no mapa, mas achei que não ia acabar passando por ele. Foi uma ótima surpresa e fiquei bem animado pois sou fascinado por música. Poder dar uma olhada em um pouco da história local e na evolução de alguns instrumentos foi muito legal. O acervo do Museu estava bem organizado e o ambiente era bacana, a entrada custou apenas R$2,00 e quando assinei o livro de visitas não vi nenhuma assinatura de pessoas de SC. Havia gente do Brasil todo: São Paulo, Minas, Bahia, Rio e muitos outros estados, mas na página onde assinei não havia sequer uma assinatura de alguém de Santa Catarina. Isso me deixou um pouco chateado, mas ainda mais motivado a produzir todo o conteúdo do projeto para pode incentivar mais pessoas, especialmente da nossa região, a conhecer tudo isso que eu estava vivenciando.
Depois de mais ou menos 20km pedalados eu fiz uma parada pra almoçar e descansar pois o sol estava forte e o calor me cansava rapidamente. Decidi que não iria cozinhar, estava com preguiça, então parei em frente a um mercado e comi um pão doce e tomei três cervejas, não é exatamente um almoço ideal pra quem ainda iria pedalar quase a tarde toda, mas eu tinha meu próprio ritmo e conhecia bem meus limites. Eu ia enfrentar uma subida forte, mas se eu sentisse que me faltava energia por causa da alimentação tudo o que eu tinha que fazer era encostar, colocar a água pra ferver, jogar um miojo dentro e em alguns minutos eu estaria suprindo essa necessidade.
Durante esse trecho do dia eu senti muito calor, o sol chegou pra valer e as subidas com todo o peso da bagagem eram sempre um momento de superação. Eu fiz muitas paradas pra descansar, ia quase que pulando de sombra em sombra pra tomar um ar e seguir mais um pouco. Por alguns momentos eu esqueci que essa era apenas a minha primeira grande subida do dia e fiquei bem feliz, mas logo me lembrei que ainda teria que descer essa pequena serra e encarar outra ainda maior antes de chegar a Alto Palmeiras. Foram momentos de pedalada bem intensos, muita reflexão sobre a vida e a viagem, estava ouvindo o álbum Melhor do Que Parece d’O Terno mais uma vez. Quase sempre escolhia esse álbum para os momentos mais “críticos”, é um álbum que gosto muito e que tem muitas mudanças de “humor” no decorrer do disco, então esses momentos altos e baixos vão me impulsionando durante o pedal, vou meio que sendo guiado pelo som. Nesses momentos parece que consigo ter a experiência mais pura comigo mesmo: sozinho, com um fone de ouvido e com muito esforço físico, é uma mescla de contemplação, concentração e superação, é algo realmente mágico.
No meio dessa primeira subida encontrei novamente três homens para os quais havia pedido informação no início do dia, eles estavam em uma Rural carregada de pasto recém cortado. Os três ficaram bem empolgados com a viagem, conversamos um pouco sobre a vida no campo e eu enfatizei o quanto eles deveriam aproveitar todas essas belezas naturais que têm disponíveis, coisas que eu, aqui no meu pequeno apartamento, muitas vezes não tenho. Foi uma conversa muito legal e reforçou ainda mais a minha ideia de querer viver em uma pequena chácara com mais verde ao meu redor. No final da conversa eles me ofereceram uma carona até o topo da subida, agradeci, mas disse que seguiria apenas com a força das minhas pernas mesmo.
Já quase no final da segunda grande subida do dia eu passei por uma das usinas que existem na região e fiquei refletindo sobre toda a questão ambiental de geração de energia. Fiquei pensando sobre o quanto precisávamos destruir para que tivéssemos acesso a toda tecnologia que temos hoje e não consegui chegar bem a uma conclusão. Precisamos do progresso que a energia elétrica nos traz, mas precisamos saber mensurar bem a que custo ela chega até nós. A utilização de energias renováveis e de equipamentos que consumam cada vez menos energia é um caminho que tem que ser trilhado e temos que nos empenhar nessa causa.
Essa segunda subida teve muitos falsos cumes, por um momento eu pensava ter superado o desafio, vinha uma pequena descida e depois vinha mais um trecho de subida pra encarar. De novo eu me via numa mistura de sensações: superação, realização e frustração. Isso aconteceu tantas vezes durante a viagem que eu perderia a conta facilmente se quisesse enumerar todas.
Mas enfim as subidas do dia terminaram e cheguei na barragem Rio Bonito, parei no mercadinho na entrada da península e comprei os ingredientes para a minha janta. Já estava quase no final do dia e eu já estava com fome. Preparei um refogado de cebola, cenoura e tomate como molho para uma polenta, acabou ficando um pouco sem sal e eu joguei um pouco de um molho de mostarda que havia comprado também. O resultado final foi uma gororoba bem saborosa, provando mais uma vez que a fome é sempre o melhor tempero.
A península possui estrutura de camping que inclui banheiros com chuveiro quente, quiosques com churrasqueiras, pias e energia elétrica. O valor é de R$25,00 por pessoa e eu paguei sem exitar. Confesso que foi um pouco frustrante pois eu havia iniciado a viagem com o intuito de não pagar por hospedagem em nenhum dos dias, mas eu sinceramente não consegui resistir a ideia de ter um bom banho no final do segundo dia, eu estava muito cansado, o segundo dia havia sido ainda mais cansativo que o primeiro e nem passou pela minha cabeça buscar outro lugar pra acampar onde eu não precisasse pagar, eu não abriria a mão de toda a praticidade do camping por apenas R$25,00 e meu ego ferido. Hoje concluo que foi uma ótima decisão.
Depois do banho eu estava renovado, é realmente incrível o quanto estar limpo te traz um ânimo diferente. Depois de dois dias de pedal intensos eu estava imundo e quando deitei no saco de dormir limpo eu era outro homem. Nesse dia eu não montei a barraca, apenas estiquei o saco de dormir e o isolante no piso de um dos quiosques e dormi ali mesmo. Foi a primeira vez que fiz isso em um local aberto e foi meio libertador, montar e desmontar a barraca não era um grande esforço, mas sempre que eu pudesse evitar e isso não me trouxesse nenhum problema eu decidi que faria isso.
O final do dia novamente foi bem solitário, depois do banho e de tudo pronto pra dormir ainda era cedo e mesmo cansado tive dificuldades pra dormir. Há algum tempo ficamos eu, a Bruna e mais alguns amigos em uma casa bem próxima de onde eu estava acampando hoje, havia pessoas lá nessa mesma casa hoje e eu podia ouví-las festejando esse dia de sábado lindo que estava terminando. Senti saudades desse momento e de todos. Logo depois peguei no sono e assim terminou o segundo dia da viagem.
2,00 – Entrada museu
2,50 – Dois macarrões instantâneos
11,50 – Três cervejas
3,00 – Pão doce
1,90 – Legumes para o molho
3,00 – Polenta
5,00 – Molho de mostarda
4,00 – Cerveja
Total do dia: R$32,90
Distância: 48,3km
Altimetria: 1.429m
Tempo de movimento: 4:05h