Cicloturismo Circuito Vale Europeu – Dia 05 de 05

A

ntes de começar o relato do quinto e último dia, mais uma vez quero agradecer a Over Bike pelo apoio na preparação da bicicleta e a Brasil Botões pelo patrocínio na compra de todos os equipamentos. Foi uma experiência incrível e sem a ajuda de vocês todo o processo teria sido muito mais difícil. Essa viagem com certeza deixou um gostinho de quero mais e de primeira mão vou adiantar que já entrou em fase de planejamento mais uma viagem de bicicleta, logo mais vem novidade por aí.

Na noite do quarto dia eu havia ido dormir cedo e deixei tudo preparado pra poder sair pedalando bem cedo. Nessa noite eu havia feito as contas e decidi que, dependendo do meu ritmo eu poderia chegar em Jaraguá no quinto dia, estava muito animado com essa possibilidade. Quem acompanhou nossa viagem pela Patagônia (se você não acompanhou, confere o link aí no menu, juro que vale a pena :] ) sabe que nos últimos dias a minha ansiedade pra voltar ao Brasil era gigante e nessa viagem não foi diferente. Depois de visitar a Cachoeira Salto do Zinco eu estava com aquele sentimento de missão cumprida e queria voltar pra casa. Durante a noite do quarto dia também conversei com a Bruna e menti pra ela dizendo que chegaria só dali dois dias. Na hora nem foi bem uma mentira, porque eu não tinha certeza que ia chegar no dia seguinte mesmo, mas caso eu chegasse, já estava com planos de fazer uma surpresa pra ela.

O despertador me acordou as 6:00h. Comi um miojo, três bananas, mais algumas orelhas de gato. Lavei a louça, empacotei tudo o que havia utilizado e que não pude organizar na noite anterior, coloquei tudo na bicicleta e comecei a pedalar as 7:00h. Nesse dia estava chovendo bastante, foi o único dia em enfrentei uma chuva “de verdade” e precisei colocar o anoraque pra me proteger do frio, mas ainda assim decidi que iria molhar as pernas, não coloquei a calça impermeável porque me sinto bem desconfortável usando ela, ainda mais pedalando.

Durante os primeiros quilômetros saí de Rodeio em direção à Ascurra, passei por algumas ruas mais centrais da cidade, mas resolvi não parar pra fazer nenhuma foto porque a chuva estava forte nesse trecho e chegando na BR-470 tomei a decisão de alterar o trajeto intencionalmente mais uma vez. Nesse trecho temos a BR-470 que vai margeando o rio Itajaí-Açu de um lado e a rua Marechal Deodoro da Fonseca que segue pela outra margem. O circuito oficial segue pela estrada de chão e não pela BR, mas como a chuva estava forte e eu quase não podia sacar a câmera pra relatar o trecho decidi seguir pela BR pois meu rendimento seria muito maior no asfalto e eu tinha muitos quilômetros pra percorrer se quisesse chegar em Jaraguá naquele dia. Parei num ponto de ônibus onde tinha uma pequena cobertura e consegui fazer algumas fotos desse trecho e, claro, na ponte pênsil do bairro Warnow, que me deu um friozinho na barriga quando os carros passaram e eu estava lá fotografando.

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Ascurra - Rio Itajaí-Açu

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Ascurra - Rio Itajaí-Açu 2

(Clique para ampliar as fotos panorâmicas)

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Ascurra - Panorâmica Rio Itajaí-Açu

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Ascurra - Ponte Pênsil Rio Itajaí-Açu

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Ascurra - Bike na Ponte Pênsil Rio Itajaí-Açu

Esses momentos de pedal pela BR-470 foram bem legais, eu estava com um ritmo forte e, apesar da chuva, estava muito animado com a possibilidade de dormir essa noite no conforto da minha casa. Ainda sentia dores na coxa direita, mas o meu amigo Paracetamol estava fazendo a sua parte e estava me deixando prosseguir bem. Depois de 30km pedalados cheguei em Indaial eu deixei a BR e voltei pras estradas de chão tradicionais do circuito. Nesse momento a chuva começou a dar uma diminuída e pude voltar a fotografar mais. Bastante verde, pequenas chácaras e casas lindas marcaram esse trecho.

Mais ou menos as 10:30h, parei pra comer um queijo quente numa lanchonete em Timbó. Nesse dia eu não estava pensando em parar pra cozinhar minhas refeições, queria passar o maior tempo possível pedalando pra percorrer todo o trajeto e concretizar meu plano de chegar em casa antes do planejado e surpreender a Bruna. Só faria isso se por acaso eu sentisse muita fome e não encontrasse nada pra comer por perto. Pude aprender bem na viagem de preparação pelo litoral que pedalar sem energia por causa da fome não é algo muito bacana.

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Indaial - Chácara

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Indaial - Casa antiga

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Indaial - Chácara 2

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Indaial - Panorâmica Chácara

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Casa antiga

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Campo verde

Depois desse trecho por Timbó eu saí novamente do trajeto planejado e dessa vez não foi intencional, foi por um erro de trajeto mesmo, acabei pegando uma entrada errada em uma bifurcação, mas novamente não vi maiores problemas nisso, resolvi seguir por onde estava indo e ir adaptando o roteiro conforme ia seguindo. E mais uma vez a viagem me recompensou por isso, depois de 45km pedalados eu havia chegado a um ponto que liga Rio dos Cedros à Pomerode, um dos trechos que eu havia cruzado no primeiro dia.

Esse foi o momento de maior emoção da viagem. Parece bobo, o trecho nem era tão espetacular assim, mas a barreira emocional que eu estava cruzando não era por causa da paisagem, mas pelo que eu havia conquistado nos últimos dias. Parei a bicicleta, sentei em um desses blocos de pedras ao lado das rodovias e comecei a refletir sobre tudo o que eu havia passado nesses cinco dias de viagem. Uma avalanche de emoções veio a tona e chorei sozinho por alguns instantes, enquanto alguns carros passavam e eu conseguia imaginar os motoristas pensando: “que que esse maluco tá fazendo aí sentado na beira da estrada na chuva?!”

Depois desse momento eu sabia que era possível chegar em casa naquele dia, afinal de contas eu havia saído atrasado no primeiro dia e mesmo que eu mantivesse um ritmo mais baixo eu conseguiria chegar no centro de Jaraguá antes do final da tarde. Foi um momento de felicidade absurda, escrevendo o relato agora trouxe isso tudo a tona e posso me imaginar naquele lugar de novo, depois dos meus momentos mais emotivos com o choro, eu dançava feito uma criança na beira da rodovia, acenando pra todos os motoristas que passavam e agora buzinavam me cumprimentando.

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Parada pra refletir

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Panorâmica da reflexão

Enfrentei uma pequena subida e logo estava em Pomerode Fundos, no Museu Carl Weege (também conhecido como Casa do Imigrante), que eu havia passado no primeiro dia da viagem, mas não havia parado porque estava sem tempo. Com certeza valeu a parada, entrar no museu foi uma viagem no tempo, a história envolvida, a ambientação com todos os objetos de época e a beleza do lugar também foram um dos pontos altos de toda a viagem.

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Museu Carl Weege

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Panorâmica Museu Carl Weege

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Sala Museu Carl Weege

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Sala Museu Carl Weege 2

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Cozinha Museu Carl Weege

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Fogão a lenha - Museu Carl Weege

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Panorâmica Museu Carl Weege

Saindo do museu eu fui em direção ao centro, aonde eu queria almoçar e depois seguir pra Jaraguá pela Rota do Enxaimel, trecho pelo qual eu deveria ter passado no primeiro dia. Durante toda a viagem eu vi placas e outdoors de um lugar chamado Império da Coxinha e fiquei tentado a conhecer, a filial de Pomerode ficava na praça de alimentação de um supermercado, ao lado de uma filial do Subway, era o combo perfeito pra mim. Pedi um Subway de 30cm, 20 mini coxinhas (são realmente muito pequenas, não se assuste) e um refri de 700ml. Parei numa praça logo a frente pra degustar meu almoço de rei.

Saí do centro em direção a localidade Testo Alto, por onde passa a Rota do Enxaimel. Novamente paisagens com muito verde e lindas casas preencheram o caminho, além de um encontro inesperado com um cachorro que talvez seja o cachorro mais simpático que eu conheci na minha vida. Eu parei no início de uma pequena descida pra fotografar uma das casas, ele me avistou de longe e veio correndo, quase pulando, de excitação. Vi de cara que era bem manso e ficamos brincando por um tempo antes que eu seguisse viagem.

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Parada pro almoço

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Testo Alto - Rota do Enxaimel - Casa antiga 1

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Testo Alto - Rota do Enxaimel - Casa antiga 2

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Testo Alto - Rota do Enxaimel - Igreja

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Testo Alto - Rota do Enxaimel - Casa antiga 3

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Testo Alto - Rota do Enxaimel - Cachorro gente fina

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Testo Alto - Rota do Enxaimel - Casa antiga 4

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode - Testo Alto - Rota do Enxaimel - Rio na subida da serra

No final da Rota do Enxaimel estava o grande desafio do dia: a serra de divisa com Jaraguá do Sul. Enquanto a serra que enfrentei no primeiro dia que é o caminho mais usual entre Jaraguá e Pomerode tem 200m de inclinação divididos em 2,0km e é de asfalto, a serra que liga o Testo Alto ao Rio da Luz eleva os mesmos 200m em apenas 1,3km e é de terra. Acredito que foi a subida mais cansativa da viagem, tive que empurrar a bicicleta por um bom trecho pois a inclinação era muito alta e com todo o peso do bagageiro (que ainda não calculei, vou colocar isso tudo no post de conclusão e guia da viagem que vai ser o próximo da série sobre o Circuito) já era difícil, agora fazer isso depois de ter enfrentado 70km (mais os quase 250km dos dias anteriores) era bem difícil.

Para quem está procurando uma aventura de um dia só, a junção desse trecho final com o parte do trajeto do primeiro dia pode ser uma ótima opção: saindo de Jaraguá sentido Pomerode subindo a serra pela SC-416, indo na direção Pomerode Fundos, chegando até o museu, depois retornar pela localidade Testo Alto, passando pela Rota do Enxaimel e chegando em Jaraguá novamente pelo Rio da Luz. O trajeto todo vai ficar na faixa dos 80km com duas subidas bem fortes, então fica um pouco puxado, mas pode ser feito em um dia completo.

Chegando no topo pude avistar o belo vale que estava esperando desde o momento em que deixei a Cachoeira Salto do Zinco, os vales da bela Jaraguá do Sul. Fiz um circuito onde passei por outras 9 cidades, todas com suas belezas, e depois de conhecê-las estava ansioso pra retornar pra minha casa. Amo essa cidade, mas também amo Ushuaia, Puerto Natales, Santiago, São Paulo, Corupá, Florianópolis e tantas outras centenas, quiçá milhares, que ainda vou conhecer. O mundo é o meu país (definitivamente não é o sul), o mundo é a minha casa.

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode pra Jaraguá - Vista do Rio da Luz

Circuito Vale Europeu - Dia 5 - Pomerode pra Jaraguá - Vista do Rio da Luz 2

Cheguei no centro de Jaraguá às 15:30h. Organizei com alguns amigos uma desculpa qualquer pra Bruna vir até a casa onde eu estava e ela adorou a surpresa. Fiquei muito feliz por estar “em casa” e rodeado de pessoas que amo. Depois de 5 dias intensos, solitários e de muita reflexão tenho que concordar com a máxima de Chris McCandless: “A felicidade só é real quando compartilhada“. Obrigado Bruna, obrigado família, obrigado amigos, obrigado a você que está aqui lendo isso, obrigado por fazerem do meu mundo um lugar melhor.

Gastos do dia:
4,00 – Queijo quente
3,00 – Água com gás
5,00 – 20 mini coxinhas
15,00 – Subway 30cm
7,00 – Refrigerante 700ml
Total do dia: R$34,00
Estatísticas do dia:
Distância: 93,6km
Altimetria: 984m
Tempo de movimento: 6:06h
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Mostrando 5 comentários
  • Sergio
    Responder

    Bacana seu site e viagem, gostei bastante do relato e do seu estilo de viajar. A algum tempo tenho vontade de fazer esse circuito, quem sabe um dia também o tire do papel. Abraço e bons pedais!

    • Diego Nunes
      Responder

      Obrigado pelos elogios, Sérgio! Sempre ficamos muito felizes com o feedback do pessoal. :]
      Com certeza o circuito vale a pena! Vi que você é de Foz, fiquei instigado a conhecer a cidade mais uma vez. Quem sabe um dia a gente se esbarre por aí.
      Um grande abraço e boas aventuras!

  • Sergio
    Responder

    Opa, estou a disposição, se precisar de algo é só falar, inclusive se quiser vir pedalando, a cidade agora conta com a casa do ciclista, um local preparado para receber os cicloturistas, mantida por uma associação local. Vale a pena um pedal por essas bandas, hehe. Abraço.

  • Emerson Fritzen
    Responder

    Muito legal o seu relato do diário de bordo. Eu e minha namorada estamos planejando fazer o circuito do Vale Europeu em janeiro de 2018, e seus textos estão ajudando bastante para planejar a viagem.
    Sua narrativa visual através das fotos também é muito bonita e transmite muito bem as sensações que você sentiu ao longo de sua viagen. Mas, mesmo você contextualizando as fotos no texto acho que ficaria bacana colocar alguma descrição nelas, nem que seja alguma referência do local que foram registradas. Mas se é sua intenção não colocar qualquer descrição nas fotos retiro o que disse.
    Mais uma vez parabenizo pelas suas histórias e por compartilhar publicamente para que nos inspire e contribua em nossas viagens.
    Valeu! Abraço!

    • Diego Nunes
      Responder

      Valeu mesmo, Emerson. Sempre adoramos quando recebemos um feedback do pessoal e é melhor ainda quando sabemos que isso ajudou no planejamento de outra viagem, é principalmente por isso que fazemos esse trabalho aqui.
      Sobre a descrição das fotos, vou manter essa dica em mente sim. Em breve vamos reformular o nosso site para a temporada 2018 que passaremos na Irlanda(!) e quem sabe essa seja uma mudança bacana pra já irmos pensando.
      Grande abraço!

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